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Miracema: Patrimônio Cultural Fluminense

A despeito da descaracterização de cidades inteiras, algumas até muito próximas de nós, que tiveram a planta dos núcleos iniciais que as originaram modificadas, importando, indiscriminadamente, modismos que nada tem a ver com nosso bucólico e pitoresco interior, Miracema ainda tem muito para comemorar, porque foi pioneira nesta parte do Estado do Rio de Janeiro, em preservar seu patrimônio cultural, tombado pela municipalidade de maneira inédita, na década de 90, através de um único ato administrativo, salvaguardando cerca de sessenta bens distribuídos pelo Centro Histórico da Cidade.

Pois são esses imóveis residenciais e comerciais edificados entre o final do século XIX e a década de 60 do século XX na parte central e as antigas fazendas que dão a nossa cidade essa característica única que, com o tempo, acabaram  transformando-se em marcos significativos da nossa arquitetura. A Rua Mal. Floriano, a principal, mais conhecida como “Rua Direita”, desde os tempos mais remotos, concentrava os principais estabelecimentos comerciais onde se encontravam desde tecidos importados do oriente a louças e cristais de procedência européia. Nos jornais locais eram noticiadas as novidades e a intensa vida social do distrito. Soirées dançantes, literárias e bailes concorridos eram realizados com frequência nos salões do Miracema Clube e nas residências da aristocracia cafeeira.

A maioria dos fazendeiros, os denominados coronéis, possuíam grandes e importantes propriedades rurais. Algumas eram tão extensas que se assemelhavam a pequenas vilas. Nelas se produzia de tudo, apenas sal e querosene eram comprados na cidade. A diversão ficava por conta das Folias de Reis, dos Caxambus, dos Bois Pintadinhos e Mineiros Pau, que com o êxodo rural se instalaram na parte alta e se transformaram num dos principais meios de resistência e de preservação da cultura negra. Esses coronéis e os demais proprietários rurais, além de suas fazendas, mantinham um sobrado, para onde  transferiam suas residências no período das festas religiosas e de grandes comemorações.

E é exatamente esse conjunto arquitetônico em estilo eclético, erguido em sua grande maioria por integrantes de uma única família de construtores e artesãos, imigrantes italianos aqui instalados ainda na primeira década do século passado, que utilizaram em seus projetos elementos decorativos inspirados na arquitetura de sua pátria, que tornaram nossas edificações ainda mais diferenciadas e valorizadas, fazendo de Miracema referência cultural na ocupação do noroeste fluminense.

A beleza desse patrimônio pode ser observada no traçado das suas ruas e praças, nos calçamentos em paralelepípedos, na poda peculiar dos oitis, nos telhados com suas pátinas esverdeadas pelo tempo, nos balcões balaustrados, nas janelas com vidros coloridos e trabalhados, nas platibandas ornamentadas com guirlandas de flores e adornos decorativos e, também, nas construções pós-modernas que foram se incorporando a esse casario, possibilitando uma leitura de épocas distintas.

Em 2009, o Estado do Rio de Janeiro, através do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – INEPAC ampliou os estudos realizados e ratificou a proteção municipal, incluindo nossa cidade no Programa de Preservação de Centros Históricos Fluminenses e promovendo o tombamento estadual do Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico do Centro Histórico de Miracema. Atualmente, a cidade ocupa o quarto lugar no Estado em número de bens tombados.

 

Por Marcelo Salim de Martino

Chefe da Div. de Patimônio e Tombamento

Patrimônio e Tombamento

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